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Foto do escritorDifusora FM

Janeiro Branco: atendimento de saúde mental na rede pública de SC ainda é um desafio

Os dados de saúde mental em Santa Catarina preocupam. Somos o segundo Estado do Brasil com a maior taxa de suicídio por 100 mil habitantes, atrás do Rio Grande do Sul, conforme dados de 2021 do Atlas da Violência. De acordo com a Associação Catarinense de Medicina (ACM), 15% dos catarinenses têm o diagnóstico de depressão — entre pessoas acima de 60 anos, o percentual chega a 19%.


O atendimento na rede pública do Estado, porém, ainda é um desafio. Uma pesquisa recente do Tribunal de Contas do Estado (TCE-SC) aponta que 21% das cidades catarinenses não têm equipes multiprofissionais em saúde mental e só 19,3% adotam protocolos para prevenção e gerenciamento do risco de suicídio.

— Frente ao cenário que se desenha, é fundamental que os órgãos de controle atuem proativamente para avaliar e promover melhorias nos serviços de saúde mental — recomenda o conselheiro do TCE, Luiz Eduardo Cherem, relator da pesquisa, que será divulgada na íntegra no dia 29 deste mês.


Atendimento primário


O atendimento público de saúde mental varia de município para município. Mas, no geral, funciona da seguinte forma: o paciente, após perceber algum sintoma, pode buscar um posto de saúde ou um Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Dali, a pessoa é encaminhada para atendimento conforme o caso. Ela pode ser atendida individualmente, em grupo ou, em casos de surto, ser encaminhada para um hospital.


Em Santa Catarina, a instituição de referência é o Instituto de Psiquiatria (IPq), localizado em São José, na Grande Florianópolis. Hospitais gerais também disponibilizam, no total, 931 leitos psiquiátricos em diferentes regiões do Estado.


O problema, nesta equação, é que o atendimento público não consegue acolher a quantidade de pacientes. A dificuldade começa já nos postos de saúde, que são administrados pelas prefeituras. Conforme a pesquisa do TCE, em mais de 60% das cidades catarinenses, o tempo de espera para uma consulta com psicólogos ou médicos psiquiatras é superior a 30 dias.


Segundo a psiquiatra Bruna Botter, que atua no atendimento de emergência do IPq, há uma insuficiência de leitos e de profissionais.

— Em muitos municípios, o CAPS funciona com apenas um psiquiatra para centenas de pacientes. Isso faz com que ele consiga atender um paciente com intervalos muito distantes, por exemplo, com consultas a cada três ou seis meses, sendo que em casos graves o ideal é que o paciente tenha consultas quinzenais ou mensais — explica a profissional.


O Ministério da Saúde recomenda que haja ao menos um CAPS em municípios ou regiões de saúde com população acima de 15 mil habitantes. Em Santa Catarina, há 111 unidades, sendo que 18 são microrregionais — ou seja, atendem a mais de uma cidade.


A Secretaria de Estado da Saúde (SES) reconhece que o principal desafio em relação à saúde mental é no atendimento primário. Segundo a pasta, há uma dificuldade de atrair profissionais especializados, especialmente em cidades pequenas.


Regime de superlotação


IPq, em São José, é referência de atendimento psiquiátrico em SC (Foto: ACN, Divulgação)

Casos mais graves, com necessidade de internação, nem sempre encontram leitos. A pesquisa do TCE aponta que 82% das prefeituras têm desafios na oferta de vagas em leitos de saúde mental e psiquiatria em hospitais gerais.


No IPq, a maioria dos casos de emergência são de surto psicótico, abstinência, descompensação de transtornos como esquizofrenia e bipolaridade, além de tentativas de suicídio, elenca a médica Bruna Botter. A instituição disponibiliza 180 leitos e, atualmente, passa por uma reforma de ampliação da ala feminina, com o intuito de atender mais pessoas.


— A gente trabalha em um regime de superlotação — desabafa a psiquiatra Bruna Botter.

Há também um problema em relação aos medicamentos: 30,17% dos municípios relataram dificuldades com a falta de remédios de saúde mental. Conforme a SES, há falta de apenas uma droga: risperidona 1 mg/mL, que deve ser reabastecida na segunda quinzena de janeiro.


O que diz a Secretaria de Saúde


Em nota, a Secretaria de Saúde informa que destina R$ 4,6 milhões aos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) catarinenses, provenientes do governo federal e estadual.


“Esse montante é distribuído entre os 111 Caps presentes em 17 regionais de saúde do Estado. Presentemente, 18 destes são microrregionais, específicos de SC, e objetivam ampliar o acesso da população. A SES esclarece ainda que a gestão dos Caps é realizada pelos municípios enquanto a Secretaria exerce a coordenação e o cofinanciamento da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS)”.


A pasta cita investimentos na área: “No mês de dezembro, o Governador Jorginho Mello e a Secretária de Estado da Saúde, Carmen Zanotto, lançaram o Programa de Valorização dos Hospitais. A iniciativa projeta destinar R$ 650 milhões para expandir a capacidade de atendimento nos hospitais em 2024, incluindo o financiamento de leitos de saúde mental. As unidades classificadas no programa poderão ter até 30 leitos psiquiátricos”.


“Adicionalmente, a SES irá dobrar o valor investido mensalmente nos leitos de saúde mental já estabelecidos nas unidades hospitalares. O financiamento para manutenção e custeio de um leito pediátrico passará de R$ 2 mil para R$ 4 mil e adulto de R$ 1,5 mil para R$ 3 mil, além do valor fixo mensal (R$ 10 mil). O investimento anual será na ordem de R$ 25 milhões.”


Autocuidado


Neste mês, a campanha Janeiro Branco busca conscientizar a população sobre saúde mental. O primeiro passo é identificar o problema: alterações no humor, no sono e no apetite devem gerar alerta, assim como o isolamento de familiares e amigos. Se os sintomas estiverem causando muito sofrimento, é hora de buscar ajuda.


— Quando se identifica um problema de saúde mental, a primeira coisa a se fazer é buscar um atendimento psicológico, psiquiátrico ou até mesmo um clínico geral — aconselha a médica psiquiatra Julia Trindade, que atua em Florianópolis.


Segundo Trindade, as pessoas podem tentar prevenir problemas como ansiedade e depressão a partir de alguns hábitos.


— É importante praticarmos autoconhecimento e termos uma rotina de saúde mental que inclui: exercícios físicos, sono, alimentação equilibrada, técnicas de respiração, momentos de lazer, bons relacionamentos. São pequenas mudanças que a gente pode fazer no nosso dia a dia e que podem fazer nossa vida melhor.


Há serviços de atendimento psicológico e psiquiátrico a baixo custo em várias cidades de Santa Catarina (veja os contatos em Florianópolis neste link). Em casos de ideações suicidas, é possível ligar para o Centro de Valorização da Vida (CVV), disponível 24 horas, pelo telefone 188. Em Florianópolis, é possível buscar teleatendimento via Alô Saúde Floripa, à disposição 24 horas. A chamada é gratuita através do número 0800-333-3233.

Por NSCTotal



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